segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Anam Cara

      Os Celtas tinham uma grande sensibilidade, um sentido muito apurado sobre o divino. Desenvolveram um conceito de amizade que envolvia a natureza, a divindade, as forças ocultas e o universo humano num mesmo plano, numa coisa só. Não separavam o humano do divino, a magia da realidade, o visível do invisível. A expressão gaélica anam cara (amigo da alma), expressa amizade, entendimento, amor. Anam, em gaélico, significa alma e Cara, amigo.
Um professor, parceiro, um companheiro era considerado Anam Cara, uma amizade que ultrapassava qualquer fronteira, qualquer plano. De início era um termo usado para alguém a quem se confessava intimidades, porque com o Anam Cara podia-se partilhar a própria alma.
O ato da confissão sempre foi muito importa nte e pessoal. No Cristianismo da Irlanda, os irlandeses não confessavam seus "pecados"  ao padre local, pois acreditavam que ele poderia manipular as pessoas por saber deles. As pessoas escolhiam o seu Anam Cara, que era considerado um amigo em espírito, alguém em quem poderiam confiar.
Dentro da sabedoria celta, a alma não era limitada por tempo ou espaço. Era uma luz divina que flui de um ser humano para outro de forma natural. Este conceito deu aos celtas a ideia de companheirismo, solidariedade, amizade profunda e especial. Quando se tinha um Anam Cara, a amizade atravessava fronteiras, convenções e o próprio tempo.

Estava-se unido de uma forma eterna com o amigo da própria alma, onde se firmava um elo com o divino.

No gaélico corriqueiro "olá", "oi" ou "como vai" é substituído por palavras que incluem o divino, como se fossem saudações que abençoam a aproximação entre as pessoas: Dia Dhuit, "Deus esteja contigo". Nas despedidas diziam Go gcoinne Dia thú, "Que Deus te guarde".
Todo encontro entre pessoas era considerado especial, espiritual, porque um estranho não aparece na nossa vida à toa, ou casualmente. Ele sempre traz uma mensagem, uma lição, uma iluminação à nossa vida. Um estranho pode ser uma semente que germinará dando frutos, o despertar da vida e a consciência de si próprio.

                                                           Um oração da Amizade.

Que sejas abençoado com bons amigos.
Que aprendas a ser um bom amigo para ti mesmo.
Que sejas capaz de viajar àquele lugar na tua alma onde existe o grande amor, calidez, sentimento e perdão.
Que isso te modifique.
Que isso transforme o que é negativo, distante ou frio em ti.
Que sejas apresentado à verdadeira paixão, parentesco e afinidade da vinculação.
Que prezes os teus amigos.
Que sejas bom para eles e que estejas lá para eles; que eles te tragam todas as bênçãos, desafios, verdades e luz de que necessitas para a tua viagem.
Que nunca fiques isolado.
Que sempre fiques no sereno refúgio da vinculação com o teu Anam Cara.


O'Donohue, John, Anam Cara, um livro de Sabedoria Celta, Ed. Rocco, 2000.

- Postado por Sidhe Adharc

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