quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A Criação do mundo segundo a tradição Bantu


            Todos os povos negros descenderiam dos Bungu, descendentes diretos de Nzambi, segundo histórias contadas por idosos NGANGA de tribo Bantu.
Nzambi, também conhecido como Ndala Karitanga (criador de si próprio), Nzambi ia Kalunga e Nzambi Ampungu, depois da criação do mundo, criou sua própria esposa para povoar a terra e ter descendência humana, bem como dominar todos os animais selvagens, por ele criados. Sua esposa deu a luz à Kalunga – filha de Nzambi – e, por isso, chamava-se Na Kalunga. Quando a filha do sagrado casal atingiu a puberdade, Nzambi informou à sua esposa que levaria Kalunga em jornada para conhecer tudo o que criara, retornado em três meses. A Mãe tentou impedir que sua filha fosse com o Pai, mas logo foi advertida e lembrada de sua condição de esposa, por ele criada, devendo assim obediência e adoração a seu marido e Deus Supremo. Mesmo contrariada, a Mãe limitou-se a permitir que sua filha fosso com o Pai e a lamentar chorando amargamente.
em viagem Nzambi construiu uma kubata (palhoça) com uma só cama onde dormiria com Kalunga durante o período de peregrunação. Inicialmente, a filha se recusou a entrar e dormir, mas acabou convencida pelo pai, avisada sobre os perigos e as feras que habitavam as florestas. Ali então, dormiram Pai e Filha varias noites, retornando ela grávida à casa. Ao ver tal situação, Na Kalunga, a mãe, inconformada se suicidou diante de Kalunga e Nzambi, que nada fez para impedí-la. Ofendido pela incompreensão de Na Kalunga, Nzambi a transformou em um espírito maligno e lhe deu o nome de Mulungi Mujimo (ventre ruim da primeira mãe que existiu na terra). Com a morte da mãe, Kalunga passa a se chamar também Ndala Karitanga (criadora de si própria) e a ser a segunda Divindade, vivendo matrimonialmente com o Pai.
Tempos depois, atormentada por um sonho onde o espírito de sua mãe a insultava e prometia devorá-la, Kalunga pede a Nzambi que tome providências e é acalmada pelo Pai. Ele disse a ela que nada de mal poderia acontecer em relação ao espírito de sua mãe, que estaria apenas pedindo comida. Portanto, disse Nzambi, vamos lhe dar.

Nzambi preparou um pequeno montículo de terra, junto da porta de sua casa simulando uma sepultura, onde Kalunga depositou a comida em oferenda ao espírito de sua mãe. Ao mesmo tempo, Nzambi proferiu as seguintes palavras: Mam’é nzamga ua-ku-kurila. Halapuila kanda uiza kuri yami nawa: Ny ngu-na-ku mono nawa, ngu n’eza ny ku ku cheha (minha mãe, acabo de vir chorar-te; agora, não voltes a ter comigo outra vez, porque se volto a ver-te, venho matar-te).

Passado o tempo, Kalunga deu à luz a um filho ao qual Nzambi deu também, o nome de Ndala Karitanga (criador ou criadora de si próprio/a), passando este a ser a terceira Divindade. Quando o filho-neto de Nzambi atingiu a adolescência, casou-se com a sua própria mãe, por ordem de seu Pai, e tiveram um filho e uma filha, a fim de povoarem o mundo e dominarem todos os animais.

Cumprindo mais ordens de Nzambi, sua filha e seu filho-neto casarem com os próprios filhos. O primeiro filho casou-se com a sua mãe e a filha casou-se com o seu pai, pois para Nzambi, já não se justificava a primeira união. Depois daquelas uniões, as seguintes seriam só entre primos. Por fim, Nzambi ensinou tudo sobre descendência e perpetuação da espécie, sobre sobrevivência e convivência e também sobre futuras desavenças e feitiçarias que viriam de um descendente do sexo feminino.
Desse-lhes também da vinda de desentendes Divinos (Divindades Encarnadas) que teriam vida terrena e depois retornariam a Ele como supervisores e mantenedores da ordem na terra, cada um em sua atribuição.

Nzambi despediu-se de todos e junto com o seu cão, que sempre o acompanhava, dirigiu-se para à Sanzala Kasembe dia Nzambi (Aldeia Encantada dos Deuses), e dali subiu para o espaço, levando consigo o seu cão. Na época, as rochas recém formadas, ainda estavam moles. Ainda hoje, estão esculpidas as pegadas de Nzambi em uma rocha ali existente, especialmente do pé direito, assim como a pata dianteira do seu cão, estas pegadas existem também em diversas outras rochas espalhadas por toda a África, incluindo Angola. Foi dali que Nzambi subiu à Tcheunda tcha Nzambi – aldeia de Nzambi – onde se conserva e faz o julgamento dos seres vivos.

A resumida lenda, bem resumida mesmo, foi contada por dois velhos naturais da região do Sombo, conselho de Camissombo. Um chamava-se Tchinjamba Sá Fuça e o outro Sá Hongo, ambos já falecidos. O primeiro morreu no Luaco, o segundo faleceu na sua terra natal com cerca de 90 anos em 1994. Comprovação feita pela Seção de Arqueologia e pré-história do Museu do Dundo-Angola, de que são originais e não forjadas por mãos humanas. Segundo as indicações dos nativos, a Sanzala Kasembe dia Nzambi, situa-se entre os rios Luembe e Kasai, junto da nascente do Mbanze.

Fonte: Livro Crenças, Adivinhação e Medicina Tradicionais dos TCHOKWE do Norte de Angola.

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